Antes de leres a entrevista que o Dino D’Santiago deu ao Expressinho, ouve a mensagem que deixou para ti num dia super especial que é o teu!
O que o levou a ser embaixador desta iniciativa?
Infelizmente, o que me levou a aceitar este convite para ser embaixador do projeto VOAR foi o facto de ter crescido no mesmo “não lugar” que muitas destas crianças. Quando a UNICEF Portugal me abordou, partilhei de imediato com a sua incrível equipa que, em criança, lembro-me de ver na televisão as campanhas de angariação para as crianças do Continente Africano. Aquilo revolvia-me profundamente, porque não compreendia por que razão não se fazia o mesmo por nós, crianças nascidas num Bairro de Lata, invisíveis à compaixão e à empatia dos que viviam ao nosso lado, mas em realidades tão diferentes. Por isso, este convite tornou-se irrecusável. Conheço as histórias destas crianças porque, de certa forma, são também a minha história.
Dos valores deste projeto, quais deles cabem num abraço?
O que mais me tocou neste projeto foi a forma como ele dá voz a crianças que tantas vezes não a têm, nem mesmo dentro das suas casas. Com o VOAR, é-lhes dada a oportunidade de partilhar o que sentem, com autonomia, responsabilidade e espaço para tomar decisões em nome do bem comum. Isso não só fortalece a sua autoeficácia e sentido crítico, como nos faz acreditar que as suas opiniões podem ecoar num futuro mais justo e esperançoso para todos. E esse abraço simbólico está precisamente aí: no reconhecimento do seu valor, no acolhimento da sua voz e na confiança de que elas já são parte ativa da mudança que desejamos ver no mundo.
Sobre o que falou com as crianças da Escola Básica 1/JI Alice Vieira e como foi acolhido?
Falei-lhes da minha infância. Do meu primeiro dia de aulas, com uma mochila amarela às costas, cheia de incertezas, medos e aquela sensação de não pertencer verdadeiramente a lugar nenhum. Partilhei também o meu percurso enquanto adulto, sobretudo no meu processo psicoterapêutico, onde reencontrei muitas feridas abertas nessa infância de escassez, não só de bens, mas de pertença, de escuta, de acolhimento. Disse-lhes como, a partir desse quase nada, éramos forçados a criar mundos imaginários para preencher o vazio que sentíamos cada vez que o mundo nos dizia que não havia espaço para nós. E fui acolhido com uma ternura e atenção que me comoveram. Aqueles olhares disseram-me que, de alguma forma, as minhas palavras encontraram eco nas suas pequenas grandes almas.
Na sua opinião, o que nos falta apreender para sermos naturalmente mais inclusivos?
Acredito que, neste momento tão desafiante que atravessamos, o mais urgente é voltarmos a olhar-nos nos olhos, com verdade, com presença, e reconhecermos que pertencemos todos à mesma família humana. E, como em qualquer família, cada pessoa tem o seu jeito único de ser, de sentir e de sonhar a vida. Nem sempre vamos concordar com tudo o que os outros dizem ou acreditam, mas damos espaço e a vida continua. Precisamos das diferenças para nos completarmos, das várias perspetivas para enriquecermos culturalmente, das experiências diversas para crescermos juntos. O que seria do nosso mundo se ele fosse monocromático, como por vezes, na nossa ignorância tentamos impor? A beleza está justamente na multiplicidade dos seus tons.
Com que tipo de atitudes cada criança pode VOAR e ser mais atenta ao outro?
Acredito profundamente que, se forem estimuladas desde cedo a conhecer a empatia e a compaixão como bússolas da sua educação, as crianças desenvolverão atitudes enraizadas num amor coletivo, onde ninguém será deixado para trás. Vivemos num mundo cada vez mais absorvido pelo plano digital, onde é mais fácil uma criança passar minutos a olhar para um ecrã do que cinco segundos a olhar nos olhos de outra. É por isso que se torna tão urgente termos adultos verdadeiramente atentos a este fenómeno, adultos que cuidem do presente com consciência e preparem o futuro com amor. Porque só assim as crianças poderão VOAR, com asas feitas de escuta, presença e respeito pelo outro.
Até onde a música pode levar “Vozes, Oportunidades, Ação e Respeito”?
A música é, talvez, o passaporte mais poderoso que existe para entrar no coração de qualquer Ser Vivo. É por acreditar profundamente nessa verdade que procuro manter os ouvidos atentos ao mundo que nos rodeia, para que as canções, e as mensagens que nelas habitam, possam ser veículos de esperança e humanismo. Quando a música se alinha com a intenção de transformar, ela torna-se ponte: cria oportunidades, inspira ação e semeia respeito. E é nesse movimento harmonioso que acredito que um dia deixaremos, enfim, de fazer distinções entre os Seres Humanos.
Pode “cantar” um pouco da letra de uma música sua que represente estes valores?
“Aqui toda a gente sente, terra não é só o lugar onde se nasceu, é também, o chão que trazemos na mente. Aqui toda a gente é parente, mesmo que quando se nasceu de outro ventre, chamamos mãe, ao mesmo continente.”