Ele não é um aficionado, sequer frequentador das praças de toiros de Espanha ou da América Latina onde o peruano Andrés Roca Rey rumou ao quadro de honra e glória dos atuais matadores que dão continuidade a um rito milenar onde a coragem de um homem defronta a braveza de um bicho — e a derrota. Mas Albert Serra gosta de olhar lugares terminais onde a humanidade vacila, o suor cresce, o sangue ferve, lugares de Eros e de Thanatos, onde qualquer coisa de essencial se põe em cima da mesa e ali fica, em jogo. Que um dia descesse às arenas e se atrevesse a mostrar a grande liturgia de morte que ali se põe em ato — e é o último sanguinolento culto solene que a civilização ocidental ainda se permite — era uma questão de tempo. Aconteceu agora, com fulgor.