Portugal prepara-se para implementar um novo Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) para embalagens de bebidas em plástico, metais ferrosos e alumínio, excluindo o vidro. O objetivo é promover a reciclagem, responsabilizando os produtores e incentivando os consumidores a devolverem as embalagens usadas. Foi este o tema da primeira discussão da segunda edição das Conversas Improváveis de 2025, realizada no Edifício Impresa e transmitida no Facebook do Expresso.
Este novo sistema aplica-se a embalagens de produtos como águas, sumos, refrigerantes, bebidas energéticas, cervejas e mixes alcoólicos. Ficam de fora embalagens com ingredientes lácteos ou com vinho, por poderem contaminar os materiais recicláveis. “Queremos matérias-primas de primeiríssima qualidade e sem qualquer tipo de contaminação”, sublinhou Francisco Furtado Mendonça, diretor-geral da PROBEB.
Ao comprar uma bebida, será cobrado um valor adicional – o depósito (que se pensa que poderá andar na ordem dos €0,10 cêntimos) – que só será devolvido quando a embalagem for entregue num ponto de recolha autorizado.
A rede de recolha incluirá supermercados (com regras específicas consoante a sua dimensão), estabelecimentos Horeca, autarquias e sistemas de gestão de resíduos, bem como pontos em espaço público. Estão previstas cerca de 2 mil e 500 máquinas de recolha automática (estilo vending machines) e 10 mil pontos de recolha manual.
“Esta foi uma das melhores decisões que assumimos”, afirmou Francisco Furtado Mendonça. A PROBEB assinou os primeiros acordos circulares com o Governo em 2018 e, desde então, “foi sempre a andar”. O dirigente lembra que o objetivo é claro: “Queremos que as nossas embalagens não sejam desperdício, mas sim a matéria-prima de novas embalagens”. Ainda assim, reconhece a complexidade do processo: “Estamos a partir do zero em Portugal”, o que representa um investimento estimado em €100 milhões. “Mas a meta é ambiciosa: queremos atingir uma taxa de reciclagem na ordem dos 90%”, reforçou.
Para debater esta questão central, a sessão contou – para além de Francisco Furtado Mendonça (diretor-geral da PROBEB) – com Mafalda Mota (chefe de divisão de fluxos específicos e do mercado de resíduos da APA), Ismael Casotti (membro da direção da Zero) e Ana Isabel Trigo Morais (CEO da SPV), numa conversa moderada por Rodrigo Pratas, jornalista da SIC Notícias.
Conheça, abaixo, as principais ideias deixadas pelos intervenientes:
- Mafalda Mota, da APA, sublinhou a importância de garantir contaminação zero nas embalagens destinadas a consumo alimentar e lembrou que “há metas para cumprir, incluindo a incorporação de material reciclado”. Acrescentou ainda que “as garrafas de bebidas, por exemplo, têm de ter materiais de maior qualidade”, razão pela qual a separação eficiente é essencial e deve ser mais rigorosa do que a separação seletiva;
- Ismael Casotti, da Zero, considerou o sistema SDR “disruptivo” no sentido em que “vamos ter que repensar os nossos hábitos. Se não nos apetecer devolver a embalagem, temos de repensar se queremos adquiri-la”. Lembrou igualmente a necessidade de se continuar a investir na recolha seletiva e de não ficar para trás a realidade de muitas zonas do país, ainda sem ecopontos. “Ainda há muita gente que não recicla e nem quer falar disto, mas vamos ter que falar. Isto vai obrigar-nos a mudar enquanto sociedade”, afirmou. Destacou também que “é essencial que o ecodesign e a substituição de materiais sejam compatíveis com o sistema de recolha”;
- Ana Isabel Trigo Morais, da SPV, defendeu mais concorrência no sector e alertou para o desperdício: “Depositamos em aterro €37 milhões em embalagens”. Destacou o valor económico dos resíduos e defendeu uma restruturação urgente na forma como o país lida com os bioresíduos. “Temos que deixar de olhar para os resíduos como lixo: são recursos”. Pôs a tónica no facto de “mais de 70% dos portugueses” separem as suas embalagens, mas que – infelizmente – “não chega”. Acrescentou que “o vidro continua a ser um problema, com 40% a acabar em aterros ou incineração”, quando as três grande vidreiras nacionais até têm capacidade para o transformar;
- Francisco Furtado Mendonça concluiu que o SDR é uma ferramenta crucial para cumprir as exigências ambientais europeias. “É um modelo testado e comprovado que pode permitir taxas de reciclagem na ordem dos 90%”, afirmou. Recordou que a PROBEB é membro fundador da Sociedade Ponto Verde e destacou: “Queremos transformar o sector e fazer parte da solução. Estamos entusiasmados, mas conscientes de que o sucesso depende da colaboração de todos os agentes: empresas, consumidores, autarquias e operadores de resíduos”.
A sessão completa pode ser vista AQUI.
As Conversas Improváveis regressam no dia 29 de junho, com o tema Saúde e liberdade de escolha: antagónicas ou complementares?.
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