A festa de verão na aldeia pode ser mais do que apenas um momento festivo e tornar-se uma verdadeira montra daquilo que a comunidade tem de melhor para oferecer. Assente na memória e na identidade, há um projeto que contraria a promoção turísticas desincorporada destes princípios.
O projeto “Há Festa na Aldeia não é um festival, é um projeto de desenvolvimento local que aposta no capital humano e nas pessoas, no sentido de serem as protagonistas do desenvolvimento sustentável da aldeia”, afirma Teresa Pouzada, presidente da Associação do Turismo de Aldeia (ATA) e diretora-executiva da Associação de Desenvolvimento Regional Integrado das Terras de Santa Maria (ADRITEM).
A ideia surgiu há mais de uma década, altura em que as associações de desenvolvimento local apostavam na recuperação do património e na divulgação do local, mas “não havia uma capacitação da comunidade para que liderasse o processo”. Havia vários festivais, mas eram uma “mão cheia de nada para a aldeia, porque aconteciam num fim de semana, deixavam lixo, era uma confusão imensa e nada se transformava”. Desta forma, criaram, em 2013, o Há Festa na Aldeia para promover o desenvolvimento local com base na comunidade.
O objetivo é alcançar uma transformação da própria comunidade, para que esta ganhe conhecimentos e ferramentas para se desenvolver económica e turisticamente. Além de ser também uma forma de contrariar a desertificação dos territórios menos povoados. “As aldeias estão condenadas, se não começarmos a cativar os jovens e eles próprios não continuarem com as associações culturais que já existem”, afirma a fundadora da iniciativa.
Ao longo do ano, havia vários momentos de capacitação na aldeia, quer fosse por convívio com localidades vizinhas ou através de programas específicos. O Cá se Fazem, Cá se Compram ensinava os habitantes a transformar aquilo que produziam em produtos vendáveis e até a criarem uma própria marca. “Convidámos uma estilista, uma designer e até uma equipa de uma costureira, que ensinaram a comunidade a vender os seus produtos de forma apelativa, de forma interessante e correspondente à sua qualidade”, explica.
Para melhorar o espaço público, foi concebido o programa A Minha Horta é um Jardim, “porque às vezes as pessoas não tinham muito cuidado com trabalho que faziam na produção agrícola, era aquilo que dava mais jeito, e não tinham uma preocupação em termos de imagem”.
Houve ainda o Almoce e Jante Connosco para colmatar a falta de espaços de refeições na aldeia. O objetivo era desafiar os habitantes a abrirem as portas de sua casa e servir pratos tradicionais aos visitantes, que pagavam “um valor muito simbólico”. No final, conheciam aquele local acompanhados pelos anfitriões. “Nas aldeias recebem muito bem e foi um sucesso”, por isso, este programa tornou-se uma iniciativa autónoma.
Com a capacitação realizada era montado um festival para mostrar o que “melhor se fazia nas aldeias e aquilo que era o património cultural destes lugares”, além de apresentar uma programação com música portuguesa tradicional. Após as primeiras edições, em apenas cinco aldeias em Santa Maria da feira, várias localidades de norte a sul mostraram interesse e quiseram replicar a ideia, o que alargou a rede a outras regiões. “Até o turista estrangeiro procura” o Há Festa na Aldeia.
O sucesso do projeto deve-se ao facto de se basear na identidade da aldeia e de ser, principalmente, uma festa pensada para a comunidade local e vizinha. “No mundo que está completamente globalizado, vamos a qualquer lado já parece tudo igual, há uma mimetização crescente por causa do acesso fácil à internet” ao “apostarmos nestes locais, fazendo com que as pessoas tenham um sentimento de orgulho e de pertença ao local, por um lado fixa aos seus habitantes e por outro conseguem oferecer algo diferenciador ao visitante”.
Este sentimento reforçado de orgulho também motivou o município a apostar mais naquele local, o que promove a saúde e o bem-estar da população. Com uma presença assídua na festa final, as juntas de freguesia colocavam um esforço adicional em investir na aldeia para a tornar apelativa. “Os próprios proprietários começaram a ter também interesse em recuperar o seu património”, conta ainda Teresa Pouzada.
Nem todas as aldeias continuam integradas no Há Festa na Aldeia por não seguirem exatamente o regulamento do projeto, mas “ficou a capacitação, ficou a aprendizagem e o conhecimento”. Nas aldeias em que ainda está ativo, algumas no Norte, no Centro e no Algarve, o projeto “continua a dar passos sólidos na garantia daquilo que é a promoção e identificação local”.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto Há Festa na Aldeia foi apoiado pelo Portugal Inovação Social para expandir a rede de aldeias abrangidas, atingindo 12 localidades. Através desta iniciativa, receberam o financiamento do Portugal 2020 de cerca de 611 mil euros, dos quais cerca de 519 mil euros são provenientes do Fundo Social Europeu.
“Reforçou a capacidade de continuarmos a fazer o projeto bem feito, porque com menos recursos, às vezes poderíamos recuar”, revela Teresa Pouzada. Com mais de 400 habitantes atingidos, este apoio permitiu replicar a iniciativa para “capacitar o futuro” de várias aldeias.
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