Com o tema “Centros de distribuição inteligentes, o inteligente futuro do retalho”, foi de tendências e do que aí vem que se falou na conferência anual da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), que decorreu esta quarta-feira, em Lisboa. Mas o foco foi mais além do que a tecnologia e a Inteligência Artificial (IA) podem trazer a este setor. Discutiu-se também a eficiência energética e o ESG (Environment, Social and Governance na sigla em inglês ou, em português, governança ambiental, social e corporativa) e o impacto de tudo isto num sector que cresceu em 2024, de acordo com um estudo apresentado.
No encontro estiveram Cristina Moreira dos Santos, presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC); José Manuel Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia; Pedro Brinca, professor associado na Nova SBE; João Bernardo Duarte, professor e investigador na Nova SBE; Marta Sá Martins, responsável de retalho no mercado de capitais na JLL Portugal; Fernando Ferreira, sócio na Dils; Grégoire Huillard, diretor de desenvolvimento e investimentos da Klépierre Iberia; Rui Vacas, responsável do mercado de capitais ibérico na Nhood; Paulo Sarmento, sócio internacional na Cushman & Wakefield; Rohit Bhargava, autor de bestsellers e orador principal sobre marketing, tendências, inovação e diversidade; Marc Vidal, analista económico e consultor em transformação digital; Manuela Veloso, responsável de investigação em Inteligência Artificial na JPMorgan; Carlos Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI); Joana Rafael, diretora de operações e co-fundadora da Sensei; Inês Drummond Borger, administradora executiva da Sonae Sierra; Alice Khouri, responsável pela área legal na Helexia Portugal; Bernardo Freitas, responsável de ESG na CBRE; Carolina Almeida Cruz, co-fundadora e CEO na C-More Sustainability; Rodrigo Moita de Deus, presidente do conselho estratégico da APCC; Grant Dudson, diretor criativo e artista; Sebastién Fernandéz de Lara, sócio da divisão de retalho na Hamilton e Carla Pinto, diretora executiva da APCC. Estas são as principais conclusões.
Durão Barroso foi convidado para falar de geopolítica, sustentabilidade e o impacto das alterações mundiais na economia
Nuno Fox
Sustentabilidade
- Já não há como fugir à palavra, ao conceito e, principalmente, às medidas que têm de ser tomadas. “Mais do que nunca sabemos os custos da inação, sabemos bem a importância dos riscos de não fazer”, diz Alice Khouri.
- Porque não tomar medidas sustentáveis – onde se incluem as preocupações sociais – pode significar a perda de acesso a fundos europeus, de financiamento, ou de reputação.
- “O ESG deixou de se marketing e passou a ser um ‘must have’”, diz Rui Vacas.
- Por isso, diz Carolina Almeida Cruz, é que devemos olhar para este tema “não para a sigla, mas sim para a capacidade de prever e de antecipar os riscos”.
Rui Vacas, da Nhood e Paulo Sarmento, da Cushman & Wakefield
Nuno Fox
Tecnologia
- É possível usar a tecnologia para melhorar e aumentar o negócio, até porque já há tecnologias baratas, repara Carlos Oliveira, sugerindo que os investidores se perguntem “quais são os impossíveis que passam a ser possíveis?”.
- “Sonhar e depois ver se e possível”, acrescenta Manuela Veloso. Ou como refere Grant Dudson, experimentar as tecnologias para ver o que dá e se traz algo para o negócio. “Precisamos de ter manequins nas montras. Não podemos ter antes hologramas?”, questiona.
- Para Manuela Veloso, a tecnologia permite aumentar o suporte do consumidor, por exemplo, ter acesso ao que já compramos em determinada loja, como acontece no comércio eletrónico. Também permite ter um serviço personalizado em qualquer loja e não apenas em lojas de luxo, como acontecia até agora.
- E é um tema – e investimento – do qual não se pode fugir porque é uma das tendências do retalho e que os centros comerciais têm de avaliar a adoptar porque pode trazer benefícios para o negócio.
- Mais ainda porque um centro comercial tem de ser, cada vez mais, um espaço de experiências e não apenas um local onde se vai às compras, nota Fernando Ferreira. Mais, hoje, com o trabalho remoto, “nota-se que são sítios onde as pessoas estão muito tempo a trabalhar”, exemplifica.
- Sebastién Fernandéz de Lara refere, com base nos resultados de um inquérito recente, que mais de 70% diz que prefere ir a uma loja ou centro comercial onde possa ter experiências.
- Contudo, investir em tecnologia não significa desumanização. De acordo com o mesmo inquérito, as pessoas querem mesmo é mais humanização: 80% das pessoas não falar com um robot num apoio ao cliente, mas sim com uma pessoa, exemplifica.
O economista Pedro Brinca apresentou um estudo sobre o impacto do setor dos centros comerciais na economia
Nuno Fox
O valor dos centros comerciais
- Um estudo apresentado esta manhã por Pedro Brinca e João Bernardo Duarte mostra o impacto que o setor dos centros comerciais tem no país. “Estamos a falar de números bastante significativos”, diz o Pedro Brinca.
- Em 2024, este sector teve vendas de 12,5 mil milhões de euros, um valor a que se somam outros impactos que mostram que o setor originou mais de 14 mil milhões de euros da riqueza do país, o que significa 5% do PIB nacional.
- Além disso, assegurou mais de 350 mil postos de trabalho, o equivalente a 6,5% do total do emprego nacional, o valor das remunerações superou os 4,7 mil milhões de euros e a receita fiscal foi de cerca de 3,5 mil milhões de euros, só incluindo o IVA e o IRS, repara Pedro Brinca.
- “Não é um valor fácil de perceber. São milhares de milhões. Para se perceber, é metade do aeroporto de Alcochete que está para construir desde 1959”, conclui.
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