Escritora, poeta, dramaturga, ensaísta e investigadora, Teresa Rita Lopes morreu este sábado, 14 de junho, em Almada, aos 87 anos. Nascida em Faro, era uma das maiores especialistas da obra de Fernando Pessoa, à qual dedicou grande parte da sua vida académica e literária.
Perseguida pela ditadura nos anos 60, exilou-se em Paris e foi professora na Sorbonne, onde defendeu uma tese pioneira sobre Fernando Pessoa. De regresso a Portugal após o 25 de Abril, tornou-se professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa, onde criou e liderou equipas de investigação dedicados a obras inéditas do poeta.
Além do trabalho ensaístico, assinou vários livros de poesia — como Cicatriz e A Fímbria da Fala — e obras de teatro, entre as quais se destaca Esse Tal Alguém, distinguida com o Grande Prémio de Teatro da APE. A sua escrita, marcada por um forte pendor poético, chegou a palcos internacionais em Paris, Milão e Madrid.
Teresa Rita Lopes deixou ainda em curso o ambicioso projeto editorial Pessoa Todo, em sete volumes, reunindo textos inéditos e interpretações da obra do autor de Mensagem. Ao longo da sua carreira, foi distinguida com diversos prémios literários, refletindo o impacto transversal da sua obra na literatura portuguesa contemporânea.
Deve-se, em parte, a esta académica, o facto de o espólio de Fernando Pessoa se ter mantido em Portugal e não ter sido vendido para o estrangeiro. Numa entrevista publicada em 2020 pelo jornal “i” contou que um dia em que foi à Biblioteca do Centro da Gulbenkian, em Paris, “soube pelo seu diretor, o Prof. Veríssimo Serrão, que o espólio pessoano ia ser vendido para Inglaterra!” Naquilo que classificou como “um terramoto mental”, falou com “António José Saraiva, também lá exilado, por sorte irmão do então ministro da Educação José Hermano Saraiva – irmãos muito amigos embora ideologicamente opostos – que, posto ao corrente, mandou imediatamente arrolar o dito espólio, impedindo-o assim de sair de Portugal”. Posteriormente, recordou o próprio “José Hermano falou disso num dos seus programas televisivos e, com medo que o não acreditassem, acrescentou: ‘Perguntem à Teresa Rita!’ Aqui estou a confirmar gostosamente: foi graças a essa medida que o espólio cá ficou. A família de Pessoa também me confirmou que essa transação esteve iminente”.
Nessa altura, já com 82 anos, continuava apaixonada: “A última [surpresa por parte de Fernando Pessoa] ainda deve estar por vir! Não me canso desse rapaz porque continua a surpreender-me”.