E eis que seis anos depois de “Filho da Mãe”, Hugo Gonçalves arroga-se a incumbência de intitular o seu último livro “Filho do Pai”. Esclarece, no final, que se trata de um diálogo entre os dois. Depois de o ler, não estaria tão segura — embora acredite que, enquanto narrador, os tenha feito conversar um com o outro —, sendo que a última frase escrita coloca em causa todas as certezas: “Na tentativa de fazer sentido, a memória é tantas vezes imaginação.” Se, como em 2019, o escritor continua a calibrar emoções e lucidez, e a geri-las com o refreamento possível, a vertente rememorativa não é a mesma.