Haverá porventura um preconceito intelectual em relação a prémios no cinema entregues a artistas que são também faróis da resistência e do ativismo. No Festival de Cannes este mês, quando o júri presidido por Juliette Binoche deu a Palma de Ouro a “Un Simple Accident”, o novo filme do realizador iraniano Jafar Panahi, houve logo quem gritasse de pulmão cheio que este era um prémio político, simbólico, para lá dos méritos artísticos. É claro que é um prémio com toda uma carga de afirmação, mas premeia também excelente cinema, um tratado de economia de processos e de formulação ética perante o tema da tortura de presos políticos nas prisões iranianas. Um “poema dentro do poema”, conforme o ator e jurado Jeremy Strong afirmou publicamente.