“Hoje em dia, toda a gente sabe que deve ir ao médico, mas muitos escolhem adiar. Não é por falta de informação, é mesmo por desleixo.”


Fátima Lopes, apresentadora de televisão, reflete sobre a forma como em Portugal os homens encaram os cuidados de saúde e o papel da educação na mudança de comportamentos. Embora 67% dos homens considerem que têm acesso adequado aos cuidados de saúde e mais de metade diga nunca ter adiado uma consulta por motivos financeiros, continuam a investir menos do que as mulheres nesta área. Para Fátima Lopes, a raiz do problema não está na falta de informação, mas numa certa negligência: “Hoje em dia, toda a gente sabe que deve ir ao médico. Mas muitos escolhem adiar. Não é por falta de informação, é mesmo por desleixo.”

Adiar uma ida ao médico torna-se uma decisão consciente. “Entendem que dá para arriscar, que podem adiar para o próximo mês ou para o próximo ano. Enquanto não há sinais de alarme, acreditam que está tudo bem.” A apresentadora destaca uma diferença de atitudes consoante a idade: os homens mais velhos, segundo a sua experiência, demonstram maior responsabilidade na adesão aos tratamentos e exames de acompanhamento. “Passa a ser uma prioridade nas suas vidas.” Já os mais novos são menos consistentes. Mesmo cumprindo os tratamentos, esquecem os rastreios e os exames posteriores. “A idade traz uma consciência acrescida de que a vida talvez não tenha assim tanto tempo, e que o melhor é cumprir tudo à risca.”

Fátima Lopes acredita que a mudança começa na educação, desde a infância. “Ainda tratamos a prevenção como um parente pobre”, lamenta. “E mesmo em termos de comunicação, não se enfatiza o suficiente o quanto a prevenção pode salvar vidas.” Defende que o ensino de cuidados de saúde deve ser igual para rapazes e raparigas. “Quando educamos um filho, não lhe ensinamos a cuidar da saúde de forma diferente por ser rapaz ou rapariga. Mas depois, na prática, parece que achamos que os rapazes não precisam de tantos cuidados.”

Também aponta falhas na forma como se comunica com os homens sobre saúde. “As campanhas são quase sempre sobre o cancro da próstata ou do intestino, e parece que são os únicos problemas que podem ter. Isso alimenta a ideia de que só têm de se preocupar com essas questões, e não é verdade.” Diz, também, que os homens vivem muitas vezes com menor qualidade de vida e morrem mais cedo do que as mulheres.

Para inverter este cenário, defende a necessidade de medidas concretas e integradas. Uma delas seria o envio regular de alertas digitais que incentivem os homens a monitorizar a sua saúde – desde exames em falta até ao estado do sono ou da alimentação. A outra passaria por repensar a estratégia de comunicação, com campanhas mais incisivas e abrangentes, capazes de abalar a indiferença e romper com os estigmas associados à vulnerabilidade masculina. Na opinião de Fátima Lopes, só com uma abordagem mais assertiva será possível criar um novo modelo de consciência e responsabilidade em torno da saúde dos homens – um modelo onde a prevenção deixa, finalmente, de ser adiada.


A Saúde do Homem

Este é um projeto a que o Expresso chamou “A Saúde do homem” e que conta com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e ainda com o Alto Patrocínio da Presidência da República e a Ordem dos Médicos, na qualidade de parceiro institucional. O estudo foi conduzido pela empresa de estudos de mercado, GfK Metris.

No total, serão publicadas dez entrevistas em vídeo e dez entrevistas em texto. Acompanhe tudo em expresso.pt .

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa

By admin

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *