Floresta portuguesa olha para o futuro



Maria de Jesus Fernandes, Ordem dos Biólogos

Recuperar os carvalhais

Encarar a proteção da floresta autóctone como inovação pode parecer estranho à primeira vista, mas é precisamente a importância de não perder por completo os princípios básicos da organização florestal, que por vezes parecem diluir-se, que move esta proposta de Maria de Jesus Fernandes. É uma “uma medida fundamental e urgente para mudar, num curto espaço de tempo, a floresta em Portugal – com efeitos práticos a curto e médio prazo e com consequências diretas na resiliência do nosso território face às alterações climáticas”, sustenta a bastonária da Ordem dos Biólogos. “Os carvalhais foram, no passado, um dos tipos de povoamento florestal mais abundante em todo o território continental, de Norte a Sul, com espécies distintas, adaptadas às condições do solo e do clima. Sujeitos a cortes sucessivos para fins diversos — desde a utilização da madeira a outros usos do solo — os carvalhais foram sendo dizimados e fragmentados até agora”, explica. Algo que “representa a perda de identidade natural, de diversidade genética, de biodiversidade e de resiliência climática do território” e também “de identidade cultural”. O “apelo” é que em 2025 se dinamize “um grande movimento” para “criar legislação que vise salvar os nossos carvalhos”. Por isso é que a 5 de junho a Ordem dos Biólogos lançou “uma petição que visa levar esta temática à Assembleia da República, procurando que se legisle de forma clara e eficaz, salvaguardando estes ecossistemas singulares da crescente pressão a que estão sujeitos”.

Lorena Coelho, CeNTI

Valorizar a resina

Um “recurso renovável, estratégico e nacional”. É assim que Lorena Coelho define a resina e traça a base do Projeto Integrado RN21 – Resina Natural do século XXI, com a missão de “recuperar e reinventar a tradição de explorar este produto natural”. Algo que implica “revitalizar a fileira da resina natural ao longo de toda a cadeia de valor, potenciando processos sustentáveis e promovendo produtos inovadores, de base biológica e com elevado valor acrescentado”. A investigadora do CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes responsável pelo projeto (liderado pelo CoLAB ForestWISE) explica que “a resina está já a ser explorada em áreas como a indústria automóvel, embalagens alimentares, calçado e têxtil, promovendo melhorias nas propriedades estruturais, mecânicas e funcionais dos materiais” e que “entre as aplicações” já em curso “destacam-se adesivos ou revestimentos protetores”, por exemplo, “com benefícios adicionais ao nível da redução da pegada carbónica”. Ou seja, “perante os desafios do abandono florestal, dos incêndios e da dependência de matérias-primas fósseis, esta abordagem representa uma mudança concreta: cria emprego local, dinamiza a economia rural e posiciona Portugal na vanguarda da bioeconomia”.

José António Teixeira, Universidade do Minho

Biomassa para aproveitar

Considere-se “a quantidade de biomassa florestal disponível em Portugal, muita dela sem qualquer utilização”, pede José António Teixeira. Se a isto somarmos a “quantidade de terrenos disponíveis bem como a grande quantidade de resíduos agroindustriais, parece adequado que a produção de bioetanol a partir de biomassa seja considerada em Portugal”, aponta o professor do Departamento de Engenharia Biológica da Universidade do Minho. “A produção de bioetanol a partir de biomassa lenho celulósica resulta na menor produção de gases de efeito de estufa, tendo um impacto ambiental positivo, sendo expectável que ocorra um aumento de unidades de produção à escala industrial”. Importa apostar neste campo em Portugal, até para resolver o quanto antes alguns desafios que ainda subsistem e que fazem com que, “em valores aproximados, a partir de 100 KG de biomassa seca, se obtêm 15 Kg de bioetanol”. Com a certeza que “nos últimos anos, têm ocorrido desenvolvimentos significativos nas diferentes componentes deste processo que têm permitido a obtenção de ganhos significativos na sua produtividade”.

Carlos Viegas, Universidade de Coimbra

Robô para controlar vegetação

“Juntar a robótica à parte da gestão florestal” em resposta aos “grandes incêndios de 2017” foi o fator de motivação que levou à criação da pioneira máquina autónoma para gestão de vegetação que está a ser desenvolvida na Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) – ligada ao Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Trata-se de uma máquina florestal totalmente elétrica e que se movimenta de modo autónomo, “como um daqueles aspiradores inteligentes domésticos”, exemplifica Carlos Viegas, conduzida por um conjunto de sensores para desempenhar tarefas tão variadas como o controlo dada vegetação espontânea ou impedir a acumulação de biomassa combustível para evitar situações mais favoráveis a incêndios.  “Não existe mão de obra para o fazer. É por isso que fazer limpeza de terrenos é tão caro”, lembra o investigador. Daí até o “módulo que pode ser instalado numa máquina já existente” e que “permite a operação remota foi um passo que “combina hardware com software” e um “GPS de alta precisão” para “programar as missões” e que inclui a “capacidade de deteção de pessoas que se atravessem à frente”. É já este ano que “estas tecnologias vão começar a ser comercializadas” e dada a arquitetura modelar da máquina, um dos próximos é “trocar as ferramentas e passa a ser também uma máquina de trabalhos florestais”.

Parcerias para promover conservação

Susana Brígido, 2BForest

A inovação proposta por Susana Brígido passa pela facilitação de “financiamento para a gestão ativa de áreas de conservação e biodiversidade” através de uma iniciativa que promove parcerias, o ES_Sponsor. O projeto tem como meta estabelecer a ponte entre os proprietários com áreas certificadas para serviços dos ecossistemas FSC [certificação internacional do Forest Stewardship Council queassegura que os produtos provêm de florestas bem geridas que oferecem benefícios ambientais, sociais e económicos] e a sociedade e empresas que com vontade de contribuir financeiramente para práticas sustentáveis na gestão de áreas florestais. Elabora a sócia e diretora geral da 2BForest que “um dos casos emblemáticos é o Pereiro, um território de 24 hectares nos Passadiços do Paiva, em Arouca, que beneficiou do envolvimento de mais de 30″ aderentes ao programa. “A gestão florestal responsável implementada na área foi crucial para a mitigação dos impactos dos incêndios de setembro de 2024” o que possibilitou a proteção de “parte dos passadiços da destruição”. No toal, projeto já atinge 670 hectares distribuídos entre 4 proprietários e armazenar (na adesão à certificação) 33,000 toneladas de carbono, com o investimento angariado a cifrar-se nos €65 mil. Segundo a responsável, “desde a certificação florestal FSC iniciada em 2018, até à implementação da certificação dos serviços de ecossistemas três anos depois, diversas ações foram desenvolvidas, como o restauro do coberto vegetal, redução do risco de incêndio e preservação dos valores ecológicos”. E reforça: “O caminho é procurar novas alternativas, parcerias e mecanismos que tragam rentabilidade ao território rural”.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa

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