A ONU descreve como “de partir o coração” as imagens da distribuição de alimentos que a Fundação Humanitária de Gaza lançou esta terça-feira, por iniciativa própria.
Falando em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, o porta-voz Stéphane Dujarric afirmou que as imagens são “de partir o coração, para dizer o mínimo” e reiterou que a ONU “não estava envolvida” na operação.
A fundação foi criada pelos Estados Unidos, com o aval de Telavive, sem a aprovação das Nações Unidas, e teve a sua primeira missão de distribuição nesta terça-feira.
Sem fornecer mais detalhes, o porta-voz referiu-se a imagens de centenas de pessoas esfomeadas que invadiram uma das áreas de distribuição de ajuda administradas pela fundação, perto de Rafah, no sul do enclave palestiniano, e depois de meses de bloqueio à entrada de alimentos.
Dujarric insistiu que a ONU “não tem confirmação independente do que aconteceu nesses pontos de distribuição”, uma vez que a sua organização “não estava lá” e, portanto, só pode confiar no que viu nos “vídeos” que circulam, mas explicou o motivo do seu desconforto.
“Para nós, a ajuda humanitária deve ser distribuída de forma segura e protegida, sob os princípios de independência e imparcialidade, como sempre fizemos”, afirmou Dujarric, advogando que a iniciativa desta fundação criada pelos Estados Unidos e com apoio israelita não cumpre com esses parâmetros.
Por sua vez, o exército israelita admitiu ter “disparado tiros de advertência na área externa do complexo” para dispersar a multidão e negou rumores de que tropas abriram fogo contra a população a partir de helicópteros, indicou a agência de notícias espanhola EFE.
Entretanto, o Departamento de Estado norte-americano rejeitouas críticas da ONU, que qualificou de “cúmulo da hipocrisia”, à ajuda humanitária a Gaza através de uma fundação humanitária recém-criada com apoio de Washington.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já reconheceu que houve uma “perda temporária de controlo” num novo centro de distribuição de ajuda na Faixa de Gaza, embora um alto responsável militar tenha considerado a operação um sucesso.
A fundação norte-americana foi criticada desde o início pela ONU por operar em lugares onde um cessar-fogo nem sequer foi declarado, por trabalhar de acordo com as exigências do exército israelita e por deixar muitas mulheres e crianças de fora, entre muitos outros motivos.