Conflito Israel-Irão escala, enquanto habitantes de Teerão procuram microdrones nos terraços



Uma operação militar limitada ou uma guerra com riscos imprevisíveis de alastrar a toda a região, foi uma das questões que ecoou ao longo deste domingo, no terceiro dia de conflito ativo entre Israel e o Irão, depois de o Governo de Benjamim Netanyahu ter lançado um ataque aéreo surpresa a Teerão, contra instalações militares, e eliminando altos responsáveis do regime dos ayatollahs. Já terão morrido 224 iranianos e 14 israelita.

Enquanto a retórica política subia de tom entre responsáveis israelitas, iranianos e o Presidente norte-americano Donald Trump, os residente em Teerão eram instigados a verificar os terraços das suas casas à procura de microdrones infiltrados por Israel, que precisou de aliados no país para montar a operação, avançava o “Financial Times”, citando uma entrevista à televisão estatal de Mohsen Rezai, antigo comandante da Guarda Revolucionária. É uma forma de manifestar preocupação com os métodos furtivos usados pelos serviços secretos israelitas, que ainda recentemente vitimaram centenas de dirigentes do Hezbollah com explosivos colocados em pagers.

Neste contexto, a região parece preparar-se para um conflito prolongado após o bombardeamento de Israel contra instalações nucleares e militares iranianas, que matou vários generais e cientistas nucleares. O Presidente turco, Erdogan, chegou a falar na necessidade de “impedir uma catástrofe que poderia envolver toda a região” numa chamada telefónica com Donald Trump.

Aparentemente menos preocupado com essas consequências, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse à cadeia norte-americana Fox News que lançou os ataques aéreos ao Irão para prevenir “um holocausto nuclear”, argumentando que o seu Governo tinha informações dos serviços de inteligência, de que os iranianos estavam a meses de desenvolver a sua primeira arma nuclear.

Insistindo na necessidade de um ataque preventivo, Netanyahu afirmou: “Tínhamos de agir, (…) para nos salvarmos, mas também para proteger o mundo deste regime incendiário.” O primeiro-ministro israelita também admitiu que passou essas informações aos norte-americanos: “A nossa intelligence, que partilhámos com os EUA, era absolutamente clara. Eles estavam a trabalhar num plano secreto para enriquecer urânio, e a avançar muito depressa, e poderiam ter uma ogiva inicial para testar em poucos meses, certamente menos de um ano”, afirmou.

Na mesma entrevista, o primeiro-ministro israelita garantiu que a Força Aérea “destruiu a principal instalação” da central nuclear de Natanz, no centro do Irão. “Destruímos a principal instalação de Natanz. É a principal unidade de enriquecimento [de urânio]”, afirmou. A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) tinha indicado, na sexta-feira, que a parte à superfície da unidade-piloto de enriquecimento de urânio de Natanz fora destruída pelos bombardeamentos israelitas.

Numa guerra em que os israelitas procuram alvos selecionados, com o objetivo de decapitar liderança do inimigo, eliminando figuras de topo para lançar o caos nas estruturas de comando, Netanyahu revelou a eliminação do chefe dos Serviços Secretos da Guarda Revolucionária iraniana, Mohamad Kazemi, e do seu ‘número dois’, Hassan Mohaqeq, em Teerão. A informação seria confirmada mais tarde pelo Irão.

Apesar de Israel ter esta política de assassinatos seletivos – que tem praticado noutros conflitos, contra o Hamas ou o Hezbollah -, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, opôs-se este domingo a um plano israelita para eliminar o líder supremo iraniano, o “ayatollah” Ali Khamenei, disseram várias fontes da Casa Branca à Reuters, que pediram para não ser identificadas.

Ao longo do dia, enquanto as operações decorriam e o Irão voltava a bombardear Israel com mísseis terra-terra, sucediam-se as intervenções de altos responsáveis com trocas de mensagens públicas que arriscavam uma escalada do conflito.

Em Washington, Donald Trump dava uma entrevista à ABC News, admitindo estar “aberto” para que o Presidente russo Vladimir Putin pudesse ser um mediador do conflito: “Ele está pronto. Ele ligou-me a falar disso e tivemos uma longa conversa sobre o assunto”, revelou. E ainda fez uma declaração em tom de ameaça, com a possibilidade de envolvimento dos EUA no conflito: “É possível que nos envolvamos, mas não estamos envolvidos neste momento”, afirmou, umas horas depois de ter escrito na sua rede Truth Social, que “o Irão e Israel devem chegar a um acordo, e vão chegar a um acordo”, acrescentando que “muitas chamadas e reuniões estão a decorrer”.

Porém, para o Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, os EUA já estão envolvidos nos ataques de Israel, denunciou à agência estatal Fars, apesar “de tentarem esconder o seu papel nos media”, e não obstante Trump ter garantido o contrário à ABC News. Pezeshkian disse que os EUA “desempenham sem dúvida um papel direto” na operação militar de Israel. Segundo o Presidente do Irão, o enviado especial dos EUA Steve Witkoff disse ao ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, que “‘Israel não pode fazer nada sem permissão’, o que significa que as ações de Israel não podem ser levadas a cabo sem a aprovação direta dos Estados Unidos”, apontou. E prometeu uma “retaliação decisiva e severa” enquanto durarem as hostilidades.

Ao fim de três dias de ataques, a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, convocou uma videoconferência dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 para a próxima terça-feira, com o objetivo de discutir a escalada do conflito entre Israel e o Irão. Mas várias capitais já têm as máquinas diplomáticas a funcionar.

O chanceler alemão, Friedrich Merz, por exemplo enfatizou este domingo que o Irão “nunca deverá ter armas nucleares” – na mesma linha defendida pela diplomacia europeia – durante uma reunião com o sultão de Omã, revelou o porta-voz do Governo germânico, em Berlim. Ao mesmo tempo, Merz enfatizou o seu desejo, partilhado com o sultão Haitham bin Tarik al-Said, de “impedir uma extensão do conflito” através de esforços diplomáticos.

De resto, França, Alemanha e Reino Unido propuseram retomar as negociações nucleares com o Irão, uma vez que as que deviam estar em curso com os EUA estão comprometidas e foram canceladas O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Johann Wadephul, foi encarregado de estender publicamente a mão a Israel, durante uma entrevista à rede de televisão alemã ARD: “A Alemanha, juntamente com França e Reino Unido, está pronta. Oferecemos negociações imediatas sobre o programa nuclear. Espero que a oferta seja aceite“, afirmou o ministro, horas depois de o Presidente da França, Emmanuel Macron, ter falado com o seu homólogo iraniano, Masoud Pezeshkian, para se pronunciar nos mesmos termos.

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