Centenas juntam-se em Lisboa para condenar racismo e violência



Centenas de pessoas concentraram-se este domingo à tarde em frente ao Teatro A Barraca, em Lisboa, em solidariedade com o ator Adérito Lopes, agredido na terça-feira por um grupo ligado à extrema-direita.

Sob o lema: “Não queremos viver num país do medo”, a concentração contra o racismo e a violência foi organizada por diversas estruturas da sociedade civil, coletivos artísticos e associações, entre as quais a SOS Racismo, A Plateia e os Artistas Unidos, com iniciativas semelhantes a decorrer em Coimbra e no Porto.

Com cartazes nas mãos e palavras de ordem contra a discriminação, os manifestantes vão ocupando o Largo de Santos, num ambiente marcado por indignação e solidariedade ao mesmo tempo.

Agressores tinham estado a vaiar sheik David Munir

O grupo de neonazis que assediou e agrediu atores do Teatro A Barraca tinha estado presente horas antes na cerimónia do Dia de Portugal, realizada no Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém. Alguns terão participado nos insultos racistas contra o imã da Mesquita Central de Lisboa, o sheik David Munir, e o candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo, confirmou o Expresso junto de fonte próxima do processo.

Pouco antes de assediarem e agredirem os atores, este grupo de 20 a 30 pessoas esteve numa esplanada em frente ao teatro, na zona de Santos, desde as 18h. Adérito Lopes foi agredido por volta das 20h, quando saía do carro que tinha acabado de estacionar nas imediações de A Barraca. O ator foi atacado a soco por um jovem de 20 anos que foi identificado pela PSP minutos depois das agressões. Foi reconhecido por uma testemunha e só não foi detido porque não houve flagrante delito e o crime depende de queixa. Na quarta-feira, o Ministério Público confirmou à Lusa a abertura de um inquérito para investigar os acontecimentos.

O jovem, sem antecedentes criminais, atacou o ator sem qualquer motivo ou provocação prévia, descreve ao Expresso fonte policial. Uma jovem atriz que vestia uma T-shirt com uma estrela foi assediada minutos antes das agressões e o grupo espalhou pelas imediações autocolantes dos Blood & Honour e do grupo Reconquista, ambos de extrema-direita. A PJ está a investigar a hipótese de a agressão ao ator ter feito parte de um ritual de inicia­ção destes grupos racistas de um dos membros mais novos. “Pode não ter havido uma ordem específica, mas ter-se tratado de um tipo de ritual de iniciação”, garante uma fonte judicial.

A PJ está a tentar determinar por que razão os neonazis escolheram aquele local e os atores como suas vítimas e não está afastada a hipótese de a motivação ter sido política. “Os profissionais da cultura são geralmente vistos como sendo de esquerda, o que pode ser, por si só, o ponto de partida para esta violência gratuita”, acrescenta a mesma fonte.

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