Cancro da próstata: “Um programa nacional de rastreio populacional permitiria diagnósticos mais precoces e uma redução na mortalidade”


A preocupação dos homens com o cancro da próstata está a crescer, mas ainda fica aquém da preocupação que as mulheres têm com a saúde em geral.

Tradicionalmente, o cuidado com a saúde era mais assumido pelas mulheres. “Eram elas que traziam os maridos às consultas e se preocupavam com a saúde da família. Mas isso está a mudar. Os homens mais jovens estão mais conscientes, procuram o médico mais cedo e envolvem-se ativamente nos cuidados com os filhos e consigo próprios”, conclui.

O cancro da próstata é o mais frequente entre os homens portugueses, mas ainda assim, não é o que mais os preocupa. Segundo o estudo, esta neoplasia maligna só aparece em sexto lugar na lista dos cancros que mais preocupam os portugueses, empatada com o cancro do estômago. Paradoxalmente, quando inquiridos sobre os cancros que já tiveram ou têm atualmente, 16% dos portugueses referiram o da próstata, tornando-o o segundo mais citado.

Para Miguel Ramos, presidente da Associação Portuguesa de Urologia, esta disparidade é curiosa, mas compreensível. “O cancro da próstata é o mais comum entre os homens, mas não é o mais letal. Cancros como o do pulmão ou o do cólon apresentam taxas de mortalidade mais elevadas. Isso pode criar a percepção de que é uma doença menos preocupante”, afirma.

Mesmo quando não é fatal, a doença deixa marcas. “Nos casos localizados, os tratamentos curativos podem provocar efeitos secundários como alterações urinárias e sexuais. Já nos casos avançados, o próprio cancro causa sintomas muito limitantes, como dor óssea severa, e exige hormonoterapia, cujos efeitos adversos incluem fadiga, depressão, perda de massa muscular e risco cardiovascular aumentado”, descreve o médico.

Estes efeitos podem comprometer o sono, a autoestima, a capacidade de trabalhar e a vida íntima. “São doentes que vivem muitos anos com o diagnóstico, e isso tem impacto profundo na qualidade de vida. O exercício físico regular é uma ferramenta eficaz para contrariar os efeitos da terapêutica hormonal e melhorar o bem-estar geral”, acrescenta.

Apesar de tudo, há sinais de mudança positiva. O estudo revela que 8% dos homens dizem ter procurado um médico influenciados por campanhas de sensibilização, como o “Novembro Azul”, que, segundo Miguel Ramos, têm contribuído para melhorar a literacia em saúde. Não obstante, defende que é preciso ir mais longe.

Quanto à prevenção, sublinha que há fatores – como a genética e o envelhecimento – que não são modificáveis. No entanto, recomenda uma alimentação pobre em gorduras, rica em vegetais e fibras, bem como atividade física regular e controlo do peso, como formas de reduzir o risco.

Com números que impressionam e efeitos que se prolongam no tempo, o cancro da próstata continua a ser um desafio de saúde pública. Para o especialista, a solução é uma: incentivar e possibilitar aos portugueses um diagnóstico precoce.

“A União Europeia já recomendou a implementação de rastreios populacionais ao cancro da próstata. Em Portugal, isso ainda não aconteceu, ao contrário do que se verifica nalguns países do norte da Europa e mesmo na Galiza, em Espanha”, afirma o presidente da APU.

Um programa nacional permitiria diagnósticos mais precoces e uma redução na mortalidade. “Portugal continua a apresentar uma taxa de mortalidade ligeiramente superior à de países como Espanha, Itália ou Grécia”, lembra.


A Saúde do Homem

Este é um projeto a que o Expresso chamou “A Saúde do homem” e que conta com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e ainda com o Alto Patrocínio da Presidência da República e a Ordem dos Médicos, na qualidade de parceiro institucional. O estudo foi conduzido pela empresa de estudos de mercado, GfK Metris.

No total, serão publicadas dez entrevistas em vídeo e dez entrevistas em texto. Acompanhe tudo em expresso.pt .

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa

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