As algas são o “ouro verde do ponto de vista dos benefícios para a saúde”, devido ao elevado valor nutricional e ao baixo teor em gordura. A sua produção não implica fertilizantes ou o uso de solo e possui uma baixa pegada carbónica. Ao utilizar algas endógenas da região, pode ser ainda uma fonte de valorização económica.
Desta forma, o projeto AlgaeFood, que integra instituições alemãs e dinamarquesas, quer mostrar a versatilidade deste produto na alimentação e averiguar a melhor forma de o cultivar. Através de programas educativos, quer ainda tornar as algas num hábito alimentar de “geração em geração”. “Para mim, foi uma experiência muito exótica quando experimentei pesto de algas e bolachas de algas. Pensava que eram muito parecidas com peixe e que teria de fechar os olhos para as trincar, mas não foi o caso”, explica Jamileh Javidpour, professora na Universidade do Sul da Dinamarca e responsável pelo projeto.
O projeto AlgaeFood, que irá terminar em 2026, recebeu o financiamento de quase dois milhões de euros através do programa Interreg, sendo este financiado por Fundos da Coesão.
Como surgiu a ideia de criar o projeto AlgaeFood?
O AlgaeFood é um projeto de interação entre a Alemanha e a Dinamarca. A investigação e desenvolvimento surgiu de uma empresa dinamarquesa, que produz flocos de algas a partir de algas selvagens, e se apercebeu que há uma lacuna entre o que fazer com este novo recurso e a importância deste na mitigação das alterações climáticas. A lacuna é entre consumidores e produtores. As pessoas estão conscientes da importância das algas, os produtores e as empresas tendem a expandir-se e a produzir, mas o mercado ainda não está estabelecido nem está desenvolvido, especialmente nos países nórdicos como a Alemanha e a Dinamarca, que não estão habituados a utilizar algas na sua vida quotidiana.
Por que motivo o projeto considera as algas como “ouro verde”?
Ouro verde porque é um recurso verde. É aquilo a que chamamos um recurso azul, [mas] todos falam de transição verde e de ter uma produção sustentável em terra. No entanto, temos de subsidiar recursos além do que está disponível e do que podemos colher em terra, e o oceano está a fornecer-nos esses recursos.
As algas são fáceis de cultivar, os únicos recursos de que necessitam para crescer são luz, nutrientes e boas condições de água, mas a maioria das costas europeias consegue cultivar as suas algas regionais.
De que forma as algas são úteis para a sustentabilidade?
Existem muitos trabalhos e artigos científicos que explicam por que razão o cultivo de algas é sustentável. É bom porque proporciona habitat, pode aumentar a biodiversidade e impulsionar a absorção de carbono, o que pode atenuar, por um lado a emissão de CO2 e, por outro aumentar a carga de nutrientes nos mares, que estão altamente eutrofizados.
Por isso, estamos convencidos de que a aquacultura também deve dar ênfase à produção de algas e que este tipo de atividade está a aumentar. No entanto, temos de compreender como trazer as algas do mar e expandir. Uma forma é apoiar a aquicultura de algas, outra é compreender os compromissos entre a área de produção e o efeito sobre os organismos marinhos e o ecossistema marinho em geral. Por isso, estamos a tentar compreender isso.
Qual é a importância de utilizarem algas nativas da região?
Vai ao encontro da definição de sustentabilidade: a utilização de recursos a um custo mais baixo para o ser humano e para o ambiente está em sintonia. A maioria das algas que são vendidas, ou que ainda estão disponíveis, são transportadas de outros locais. A Noruega é atualmente um dos principais países nórdicos produtores de algas, mas países como a Alemanha que está exposta ao Mar do Norte, que é uma zona muito plana, ou ao Mar Báltico, que tem baixa salinidade, pode ter dificuldades em cultivar algas. Mas nós ainda temos algas autóctones e regionais, nas quais podemos confiar e colhê-las ou cultivá-las. É assim que entendemos que o projeto deve ser moldado, porque não se trata de cultivar em si, mas sim de utilizar o máximo possível recursos sustentáveis de um local, de um conjunto regional e não de toda a Europa.

Investigadores identificam algas da região
AlgaeFood
Como sensibilizam os consumidores para o consumo de algas?
Muitas vezes, os consumidores não têm qualquer experiência com os alimentos exóticos que fornecemos. Este projeto está a realizar atividades, vai a eventos públicos e cozinha para os consumidores para lhes mostrar que se pode comer uma salada de algas [apanhadas] à porta de casa e lhes [mostrar] como processá-las. Quando alguém nos mostra como processar estes alimentos, torna-se muito mais fácil considerar cozinhá-los. Fizemos também um calendário de Natal em que fornecíamos uma receita para cada dia. E esperamos que, com esta atividade, possamos alcançar público comum e ir além daqueles que estão realmente expostos à utilização de algas e peixes, não só a comer sushi, mas também a comer algo que cresce nas proximidades.
Por que motivo querem desenvolver programas educacionais sobre o assunto?
Identificámos uma grande lacuna entre o que a produção inovadora pode trazer e a possibilidade de convencer os consumidores a experimentar algo. Enquanto não for transmitido de geração em geração, não será um hábito nem se tornará parte da nossa sociedade. Por isso, vamos educar as crianças nas escolas, também visitamos escolas de culinária onde são formados futuros chefes de cozinha e pedimos-lhes que deem as suas próprias ideias para receitas que utilizem algum tipo de algas. Como tal, tentamos também fazer a ponte com as atividades atuais na esperança de ver resultados num futuro próximo e a longo prazo.
Como tem sido o feedback do público?
Agora estamos a aplicar questionários, nos quais perguntamos aos participantes dos nossos workshops se querem experimentar, se querem investir em ter este recurso nas suas cozinhas e a resposta que temos obtido é muito positiva. Pelo menos as pessoas com quem temos lidado estão muito abertas à utilização de algas.
Ainda falta um ano para concluir o AlgaeFood, o que falta atingir?
Este ano, na verdade, estamos a tentar fazer o nosso melhor para ir a todo o lado e apresentar os alimentos à base de algas e as algas como alimentos. Publicámos um livro de receitas nas línguas locais, alemão e dinamarquês, mas também estamos a tentar traduzir esta informação em inglês para os turistas e outros interessados no nosso material.
Então, este é o ano das atividades e no próximo ano vamos sintetizar os dados que obtivemos, descobrir qual a melhor forma de ir mais longe e o que ainda é necessário para que mais de 50% da população consuma algas. Ainda não temos estes dados, o inquérito que fizemos deverá estar disponível no próximo ano. No próximo ano, passaremos definitivamente dos dados à ação, se possível com algumas recomendações.
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