Há anos, desde 2008, que não o ouvíamos tocar. Alfred Brendel tinha dado o último concerto em Viena, no Musikverein, a sala onde seis décadas antes havia tocado pela primeira vez, aos vinte anos e com um prémio no Concurso Ferruccio Busoni acabado de ganhar. Nessa derradeira vez, tocou um Concerto de Mozart, um dos compositores da sua constelação de favoritos, de que gravou todos os concertos sob a direção de Neville Marriner. O grande pianista austríaco retirava-se, disse então, para “outro registo”, o da escrita, que o ocupou desde então. Publicou ensaios sobre música e interpretação, sobre arte e sobre o piano, além de coleções de poemas. Participou em conversas, deu conferências. Mas nunca deixou de se considerar um músico, como o afirmou ao Expresso, por escrito, em 2021, por ocasião da sua vinda ao Festival dos Capuchos, em Almada. Tinha 90 anos. Esta terça-feira, aos 94, morreu em Londres, onde vivia desde 1971.