O estudo revela que, apesar de 86% dos homens terem médico de família, apenas 57% recorrem ao centro de saúde. Que medidas podem ser implementadas para incentivar uma utilização mais proativa dos cuidados de saúde primários por parte dos homens?
A discrepância identificada entre a atribuição de médicos de família e a efetiva procura de cuidados de saúde primários, por parte da população masculina, constitui um desafio estrutural que requer uma resposta política integrada e baseada em evidência. Importa reforçar a literacia em saúde dirigida à população masculina, promovendo ações de comunicação e de informação adaptadas aos diferentes grupos etários, socioprofissionais e culturais, com foco na prevenção, na relevância do acompanhamento regular e na deteção precoce da doença. Paralelamente, a acessibilidade deve ser melhorada através da flexibilização dos horários de atendimento nos cuidados de saúde primários, incluindo o funcionamento pós-laboral e ao fim de semana, e a expansão de canais digitais seguros, como a teleconsulta. A promoção de modelos de cuidados personalizados, com equipas multidisciplinares que integrem psicologia, nutrição e enfermagem comunitária poderá contribuir para reforçar a confiança dos utentes.
Acresce a necessidade de envolver os próprios serviços de saúde e os profissionais na construção de estratégias de aproximação, incluindo a utilização de dados para identificação de padrões de subutilização e a adoção de abordagens centradas na pessoa.
Finalmente, importa fomentar um novo paradigma em que os cuidados de saúde primários são percecionados como eixo estruturante da saúde ao longo da vida, com enfoque na proatividade, proximidade e equidade.
No tratamento há uma maior tendência para procurar hospitais públicos do que privados (80% vs. 57%). Os homens reservam uma parte menor do orçamento (11%) e 33% refere que o rendimento influencia no acesso aos cuidados de saúde. Que leitura pode fazer-se?
Os dados deste estudo indiciam uma forte dependência do sector público, motivada por razões económicas. A menor afetação orçamental pelos homens pode refletir uma menor procura ou valorização dos cuidados preventivos. O facto de um terço apontar o rendimento como barreira evidencia desigualdades no acesso, sugerindo a necessidade de políticas que promovam a equidade, a literacia em saúde e uma melhor articulação entre os sectores público, social e privado.
Os homens apresentam taxas elevadas de doenças como hipertensão e diabetes, mas são menos propensos a procurar cuidados médicos. Como pode o sistema de saúde português adaptar-se para identificar e tratar precocemente estas condições?
A elevada prevalência de doenças crónicas, tais como a hipertensão e a diabetes entre os homens, aliada à sua menor propensão para procurar cuidados de saúde, constitui uma preocupação prioritária para o sistema de saúde. Para responder eficazmente a este desafio é necessário reforçar os mecanismos de deteção precoce e de acompanhamento regular, com enfoque específico nas populações masculinas mais vulneráveis, muitas vezes marcadas por fatores económicos, sociais e geográficos adversos. A implementação de programas de rastreio realizados em contextos não convencionais, como os locais de trabalho, associações comunitárias ou desportivas, poderão contribuir para a identificação atempada de casos.
Paralelamente, importa desenvolver estratégias de proximidade baseadas em equipas de saúde familiar e comunitária com atuação ativa em territórios de maior risco, promovendo a vigilância da saúde em articulação com as autarquias e entidades da sociedade civil. A aposta na inovação digital, com o alargamento de plataformas de monitorização remota, aplicações móveis para gestão da doença e sistemas de alerta automatizados, pode ser integrada numa estratégia mais ampla de transição digital da saúde.
Será igualmente importante investir na formação contínua dos profissionais tendo em vista a promoção de abordagens clínicas centradas na pessoa. Um sistema de saúde proativo, inclusivo e tecnicamente capacitado é crucial para melhorar os resultados em saúde e garantir a equidade no acesso e na prevenção.
“A Saúde do Homem” é uma iniciativa que visa retratar os cuidados de saúde da população masculina e sensibilizar a sociedade para a importância da prevenção e do tratamento de doenças que a afetam. Um projeto Expresso, com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e o apoio institucional da Ordem dos Médicos.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa